segunda-feira, abril 13, 2009


Vida longa aos inimigos do rei!

Leio com prazer um novo blog (desde fevereiro na cyber-praça) que reúne alguns dos idealizadores de "O Inimigo do Rei", jornal alternativo antiautoritário que nasceu em terras soteropolitanas há mais de 30 anos (foi publicado de 1977 a 1988).

, tecendo comentários ácidos e sarcásticos, no estilo que marcou o (agora) clássico "Inimigo". Segundo seus autores, trata-se de um blog que "critica impiedosamente a hipocrisia, o autoritarismo e a impostura nos mais variados setores".

Desde já, comparece na seção de links, ao lado direito deste blog aqui.

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Para quem não conhece a história de "O Inimigo do Rei", vale explorar os posts do blog criado por outro inimigo, Carlos Baqueiro. Segue o link:

O Inimigo do Rei

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E, a propósito, o meu texto sobre a comemoração das viúvas da ditadura foi publicado no "Mídia Rebelde", blog editado por Baqueiro.

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Vida longa aos inimigos do rei!

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quarta-feira, abril 08, 2009

Eu recomendo...

... um texto de qualidade publicado por meu chapa Durden Poulain. Texto daqueles que mesclam ira e lirismo, brotando das entranhas castigadas por tanta injustiça, desigualdade, violência, etc, etc, que nossa "civilizada" sociedade nos traz de bandeja todos os dias.

Segue o início, pra dar um gostinho:

Univesitário de Merda

Aquele universitário de merda, era o mesmo que entendia quase tudo, a não ser o que não era ele próprio.

Aquele sarcasmo maldito escondido na terceira cárie, mas universitários não tem cárie. E era ele.

Aquela merda de tabaco ruim. Aquela dura, que eles tomaram. Mas eles eram brancos, brancos e estudavam na PUC.

O policial negro, o capitão do mato, que trata o povo, e o cartão de crédito de medicina com respeito, o juiz mulato, que pra ser exceção, resolve virar uma regra. Reacionária e régua, intransigente, que mede todos pela cor.

Os negros favelados que se fuderam e você só viu naquela página de jornal que o retardado da 406 limpou, sob você e seus risos, comerciais de tv, ali, assim, com famas nos olhos.

E ele, ele assim, no meio de tudo isto, que nem identificação de classe tem, mas já se posicionou, ele aquele merda ousado. Aquele hippie de botique, aquele filho da puta sujo. Sujo.

Mais do mesmo aqui.

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Recomendo também o blog de meu outro chapa que debutou há pouco na blogosfera.

Em Signo de Plutão, uma galáxia de significantes e significados sagazes, talentosamente arranjados numa trama que vale a pena acompanhar: "Malditos".

É isso aí. Recado dado.

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segunda-feira, abril 06, 2009


Uma mentira de 45 anos


Goebbels, ministro da propaganda da Alemanha hitlerista, deixou para a história uma frase lapidar que dizia algo como: “Uma mentira contada muitas vezes torna-se verdade”. Quem sabe inspirados por esse lema nazista, os militares do Brasil celebraram, no último dia 31 de março, no Clube Militar do Rio de Janeiro, o aniversário de sua intitulada “Revolução Democrática de 1964”. Uma mentira de 45 anos que contraria os mais balizados estudos historiográficos, além de desrespeitar a memória de torturados, mortos e desaparecidos de um dos períodos mais vergonhosos de nossa história recente.

Não houve nenhuma revolução, muito menos democracia. A verdade, ainda que óbvia para muitos, deve ser insistentemente reiterada para que não seja soterrada por essa versão vomitada pelas viúvas do totalitarismo. A tal “revolução” não passou de um golpe, uma quartelada, fruto de uma aliança entre frações de classes. Um golpe civil-militar, como bem sublinhou René Armand Dreifuss (em "1964: A Conquista do Estado", lançado pela Editora Vozes), que reuniu setores mais reacionários das forças armadas com civis interessados em deter as reformas do período João Goulart (1961-1964) e a virtual ameaça de participação política das esquerdas. Tratava-se de grupos apoiados no capital estrangeiro, muito mais preocupados em manter as coisas como sempre foram do que transformar a situação do país.

Os teóricos militares devem ocupar muito seu tempo lendo manuais de guerra e tortura, pois propositadamente ignoram o sentido essencial de um dos conceitos mais importantes da sociologia: revolução significa transformação profunda na estrutura social. (Verdade que não é tão simples, visto que esse significado não é consensual nas Ciências Sociais. Mas o objetivo aqui não é mergulhar nesta discussão, o que tomaria tempo e espaço).

Mesmo em tempos de acentuado relativismo – onde falar de “verdade” pode soar “démodé”, além de atrair a ira dos intelectuaizinhos “cult” do cenário pós-moderno – é difícil não perceber concretamente o óbvio: o golpe de 64 não alterou profundamente a realidade de um país com brutais desigualdades econômicas e sociais. Assim, falar de “Revolução de 1964” é imoral, patético e descolado de qualquer análise mais séria do contexto da época.

Quando acrescentam o adjetivo “democrática”, então, os saudosistas da ditadura tornam-se bobos da corte perfeitos. Escavando a etimologia da palavra, não resta dúvida: “demo” é povo; “cracia” é governo. Seguindo essa lógica, desde quando podemos considerar os 21 anos de (des)governo civil-militar como democráticos? Cassação de parlamentares, fechamentos de Congresso, eleições indiretas, censura à liberdade de expressão, desrespeito aos direitos humanos: isso é “governo do povo”? O povo estava sendo satisfatoriamente representado naquele simulacro de democracia? Se a “democracia” que temos hoje já é imperfeita e farsante em muito de seus aspectos, o que dizer dessa “democracia” verde-oliva inaugurada pela tal “revolução”?

Um castelo de mentiras que precisa ser constantemente bombardeado, como fizeram os estudantes que protestaram na calçada em frente do Clube Militar, no dia 31/3. Uma manifestação que deixou irado o vice-almirante Sergio Tasso Vasquez de Aquino, que os chamou de “jovens desocupados” em artigo publicado no site do Clube Militar, ressaltando seus “direitos constitucionais de associação e reunião pacíficas”. Perfeito, vice-almirante: a Constituição lhe garante isso. Mas também nos garante o direito de rechaçar publicamente essa celebração, quantas vezes forem necessárias.

Quem resumiu bem a imoralidade da comemoração foi o estudante Luiz Alves, em entrevista ao JB: “Esse evento é como comemorar o Holocausto, são as páginas negras da história brasileira”. E, afinal, até a data é mentirosa, pois o golpe foi no dia 1º de abril, não no dia 31 de março, como insistem os militares, tentado se desvencilhar do dia que melhor combina com suas historinhas falaciosas.

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Foto: reprodução do filme "Terra em Transe".

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